Novo relatório revela que o setor de mídia digital independente cresce mesmo sob ataque na América Latina

A SembraMedia, uma organização sem fins lucrativos que apoia jornalistas empreendedores, em parceria com a Omidyar Network, publicou hoje “Ponto de inflexão”, o mais completo estudo já realizado sobre o crescimento e o impacto da mídia digital independente na América Latina, bem como as ameaças ao setor.

45% dos jornalistas foram vítimas de violência ou ameaças por conta de suas reportagens e 20% admitem autocensurar-se em decorrência disso

Redwood City, Califórnia, EUA (20 de julho de 2017) — A SembraMedia, uma organização sem fins lucrativos que apoia jornalistas empreendedores, em parceria com a Omidyar Network, publicou hoje “Ponto de inflexão”, o mais completo estudo já realizado sobre o crescimento e o impacto da mídia digital independente na América Latina, bem como as ameaças ao setor.

O relatório da pesquisa, que analisou 100 veículos de mídia digital da Argentina, Brasil, Colômbia e México, mostrou que tais organizações estão ganhando cada vez mais influência na cobertura de temas que promovem melhor gestão pública e combate à corrupção. No entanto, elas sofrem crescent ameaças e pressão que podem forçá-los a autocensurar-se ou até a encerrar suas operações.

Muitas das plataformas—operadas por jornalistas dedicados à busca de mais liberdade para cobrir temas vitais confrontados por países de toda a região—estão alcançando novos públicos e se consolidando como empresas sustentáveis, lucrativas e de impacto. Mais de 70% dos empreendimentos neste estudo começaram com menos de US$ 10 mil; e, atualmente, 12% têm faturamento anual igual ou superior a US$ 500 mil. Dentre os veículos, 66% produziram histórias que foram utilizadas pela imprensa internacional e 55% já receberam prêmios humanitários ou de jornalismo.

Ainda assim, em muitos casos esta independência e este sucesso têm custado caro. Ataques físicos e econômicos estão comprometendo a capacidade operacional dessas plataformas de mídia e as estão induzindo à autocensura. Das organizações pesquisadas, 45% foram alvo de violência ou ameaças decorrentes de suas reportagens e, como resultado, 20% alteraram sua cobertura jornalística.

“Depois de passar anos trabalhando com jornalistas empreendedores na América Latina, eu sabia que o seu trabalho vinha ganhando importância, mas não tinha me dado conta do impacto que eles estavam causando, nem o quanto se tornaram vulneráveis, antes de concluirmos este estudo”, afirmou Janine Warner, cofundadora da SembraMedia e bolsista do Centro Knight do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ). “Empreendedores da mídia digital estão transformando profundamente o modo como o jornalismo é conduzido na América Latina. Eles são agentes de mudança, promovendo melhores leis, defendendo os direitos humanos, expondo a corrupção e combatendo o abuso de poder. Estão determinados a produzir notícias independentes em países extremamente polarizados—e muitos deles estão pagando um alto preço por isso”.

O relatório identifica três requisitos principais que promovem o crescimento e maior impacto destas organizações:

1. Proteção: Essas organizações devem ser protegidas de ataques físicos e econômicos para que continuem a crescer e ter liberdade para cobrir integralmente matérias delicadas. Os patrocinadores e os investidores podem oferecer apoio financeiro e legal extra para permitir que tais organizações se protejam dos ataques e consigam rebatê-los.

2. Profissionalização: A sustentabilidade é vital. Modelos de negócios e empreendimentos mais sólidos permitirão que essas organizações não apenas consigam expandir seu trabalho, mas também irão garantir sua independência e as protegerão contra eventuais sanções econômicas, como a perda de anunciantes publicitários, uma tática comum entre governos e outros segmentos descontentes com a cobertura de notícias.

3. Parcerias: Essas organizações podem ampliar seu alcance e seu impacto. Há uma oportunidade para explorar parcerias que permitam ampliar a divulgação e a promoção de conteúdo, ampliar a conscientização internacional sobre os temas de reportagens dessas plataformas e criar fluxos adicionais de receita.

“A amplitude, profundidade e escala dos desafios à democracia, à transparência e à prestação de contas encontrados por toda a região são muito preocupantes. O papel da mídia independente nunca foi tão imprescindível”, afirma Felipe Estefan, líder de investimentos da Omidyar Network. “Os patrocinadores, os investidores e a sociedade civil devem apoiar essas organizações para assegurar que continuem aptas a provocar um impacto real, desenvolver empreendimentos sustentáveis e atuar como modelos inspiradores para os demais, por toda a América Latina e no mundo”.

O relatório completo pode ser baixado em espanhol, português e inglês em http://data.sembramedia.org

O estudo “Ponto de inflexão” foi realizado por meio de entrevistas com os fundadores ou diretores de 100 start-ups de jornalismo digital—que variam de pequenos projetos fomentados por voluntários voltados para nichos de público, a organizações jornalísticas de peso, com alcance de dezenas de milhões por meio de websites, podcasts e mídia social. Os 100 participantes foram divididos igualmente em 25 representantes da Argentina, Brasil, Colômbia e México.